Um anjo despedaçado em praça pública ajudou o ilustrador e escritor potiguar Aureliano Medeiros a construir a história do seu novo romance: Reinventando Denise. A obra publicada pela Companhia Editora Nacional será lançada às 16h30 do deste sábado (7), no Mahalila Café e Livros, local que aparece no livro junto com outros cenários do Rio Grande do Norte.
O enredo, segundo o autor, se desenvolve quando Denise volta a Natal após cinco anos vivendo em São Paulo. A jovem busca retomar laços de amizade e memórias, mas algumas delas esbarram em um grande problema local: o descaso com a história e a conservação de patrimônios históricos e culturais.
Destruído ao relento, o Anjo Azul – escultura de 12 metros de altura e 28 toneladas, assinada pelo artista José de Arimatéia Jordão – volta a ter destaque. A obra ficava na entrada da galeria de mesmo nome, situada à Avenida Hermes da Fonseca, bairro Tirol. Quando o espaço foi vendido, nos anos 2000, os compradores optaram pela retirada dela e o poder público não atuou efetivamente para preservá-la.
“Falaram em levar para Monte das Gameleiras, pra Maxaranguape, vários lugares, e no fim das contas ela foi parar lá na Praça de Alagamar, em Ponta Negra. Havia a intenção de remontar essa estátua, mas isso não chegou a acontecer. Os pedaços foram se deteriorando até que não havia mais como recuperar e foi preciso fazer a demolição final desses pedaços em 2020. Eu lembrava muito de ver esses pedaços na praça. Lembro de ter passado lá e achado aquela coisa completamente aterrorizante”, diz Aureliano, que chegou a fazer fotos na cena.
“Aquilo pra mim era muito Natal”, comenta sobre os pedaços da estátua. “Natal estava na minha frente impressa numa situação. Eu via que é isso que acontece com a nossa memória. A gente não tem o direito de conservar a nossa memória, de criar laços afetivos com as coisas porque tudo que tá aqui agora daqui a pouco pode não existir mais.”
Na opinião de Aureliano, a estátua, o Hotel Reis Magos e tantas casas antigas destruídas para a construção de farmácias representam a dissolução da identidade da capital potiguar e é essencial dar destaque a isso:
“Enquanto natalense, era importante eu falar sobre isso e deixar essa discussão ainda viva. É fazer justiça poética por esses patrimônios que não tiveram oportunidade de prosperar na cidade.”