segunda-feira, dezembro 4, 2023
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Programadora une poesia e algoritmos para ensinar linguagem de computação aliada ao método Paulo Freire

Quando a tia de Soraya Roberta, 26, a mandava ler Paulo Freire ainda na infância, a garota não compreendia. “Eu detestava, não entendia nada, porque eu tinha 8 ou 10 anos de idade. Eu não entendia nada do que ele falava. E minha tia dizia: ‘vai ler sim que um dia você vai precisar disso’”. Passados os anos, Roberta entrou no curso de Sistemas de Informação na UFRN, e os ensinamentos da familiar, que era professora de Letras, começaram a fazer sentido.

Com um contato tão próximo com a pedagogia e a literatura, ela decidiu levar as duas áreas para a graduação. Assim nasceu o “Poesia Compilada”, uma página de poesia em códigos que agora virou livro digital gratuito, chamado “Meu primeiro Print”. 

“Quando a gente fala em poesia e programação, é assustador para quem às vezes nem começou a pensar sobre os dois. Mas na realidade ambos fazem parte de campos muito parecidos, porque a poesia é composta por semântica e sintaxe. Na poesia a gente tem os versos, as rimas, tem estrofes”, analisa.

“Tem toda uma característica própria que o faz poesia, que é diferente da prosa. Nos algoritmos a gente também tem uma sintaxe e uma semântica que o fazem ser um algoritmo e você diz: ‘opa, isso aqui não é um texto que eu leio no jornal’”, reflete.

O projeto do “Poesia Compilada” já existia desde 2012, ano em que iniciou o ensino médio integrado em Informática no IFRN Caicó, mas ganhou corpo de vez em 2016, já na UFRN. Naquele período, uma reprovação a fez questionar os métodos de ensino dentro da programação. Numa turma de 20 anos, 16 estudantes reprovaram, inclusive Soraya. 

“Foi bem difícil lidar com isso e eu fiquei bem chateada comigo, e também tentando entender o cenário”, diz. Entre os pontos que achou para tentar compreender o porquê de tanta reprovação, diz que existiam três questões principais: a falta de formação dos professores — “a maioria dos professores que atuam na área de computação não são formados em licenciatura, e deveriam ter pelo menos uma base pedagógica” —, o baixo nível de pensamento computacional entre os alunos, e a dificuldade dos docentes em relacionar o conteúdo ao cotidiano dos graduandos. 

Com a experiência adquirida no curso e a vontade de mudar o mundo à sua volta, decidiu levar o ensino da linguagem da programação para os alunos da sua cidade de origem, Jardim do Seridó, a partir de um projeto de extensão. Ela, entretanto, não recebeu financiamento da UFRN nos primeiros anos e precisou contar com a ajuda da família. A mãe é faxineira, e através da limpeza nas casas ajudava a filha a comprar folhas de ofício, pagar o transporte e até se alimentar para manter a pesquisa nas escolas. 

Já o pai da programadora é diagnosticado com esquizofrenia, recebe aposentadoria do INSS e separava uma parte do dinheiro para ajudar a garota. Segundo Soraya, estudar os métodos do educador pernambucano fizeram a questionar inclusive sobre medidas antimanicomiais.

Para acessar o livro “Meu primeiro Print” clique AQUI.

Confira a matéria completa na Agência Saiba Mais

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